quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Da minha origem...

O Rio de Janeiro, dizem, continua lindo, contudo, para mim, ele nem está tão mais lindo assim. Mas é nessa terra quente que as pessoas mais lindas do (meu) mundo se encontram. Cada um com seu jeito e papel de importância na minha vida, doce vida.
Os lindos desse meu mundo não estão na mesma casa ou no mesmo bairro, mas estão eternamente guardados dentro do meu coração...

A viagem começou cedo, bem cedo. Minha cara amassada, meu travesseiro com fronha com detalhes que parecem um jornal, meu cabelo bagunçado e amarrado e meu bom-mau humor matutino habitual denunciavam. Ainda estava escuro, o sol não havia nascido, mas eu até diria, se isso não soasse tão pateticamente alegre, que meu olhar brilhante e esperançoso seria capaz de iluminar um caminho todo.
Parada ali, parada aqui, pão de queijo e toddy, meu estômago nunca foi lá muito fresco, mas não é bom abusar. Volto para o carro e deito, me cubro com meu lençol gigantesco e durmo. Sonho com aquilo que já aconteceu, que não aconteceu e que ainda aconteceria e me deixaria com a impressão de que 'já havia vivido isso antes'.

Algumas horas depois, acordo com buzinas de ônibus, céu cinza e chuva. "Mas, oras, já voltamos para Sampa, terra da garoa?" - penso. Olho com atenção, observo as cores dos ônibus, as pessoas com regatas e havaianas e realizo que não, não estamos em São Paulo e sim só numa parte diferente do Rio de Janeiro, longe de Ipanema e de suas loiras com curvas belas, num dia atípico de chuva, mas, ainda assim, muito calor.
Vejo onde nasci, ligo para meu menino-amor que está em casa me esperando com saudade já, conto que tenho a nítida sensação de já ter passado ali antes e sou interrompida pela frase: "Sarinha, minha filha, você nasceu por aqui". Talvez eu conhecesse aquele lugar mesmo. Dos meus sonhos, do útero, das lembranças que nem eu sabia que tinha ainda. Minutinhos depois chegamos em uma das muitas casas que nos serviriam de ponto de encontro, cenário para histórias e lembranças mil.

Hora do almoço, hora de comer arroz, purê, carne assada e salada... Ah, a salada. Chicória, tomate e cebola nunca foram tão gostosos juntos, talvez o segredo seja o tempero da Vó Thereza: água com sal e limão, depois alho amassado, depois azeite e, quem sabe, mais um pouquinho de limão... por que não?
Depois do banquete regado a suco de maracujá, coca-cola e rivalidade entre Flamengo e Vasco, é hora de partir, re-conhecer outras histórias e pessoas, queridas pessoas.

Avenida grande e fácil de se perder, o ponto de referência é a praça. "Ah, aquela que passamos há dez minutos atrás???". Que coisa! Onde será que estaria o retorno mesmo? Depois de uma volta pela praça, pela avenida e pelo trânsito do Rio e de alguns motoristas nem sempre muito bons, nos deparamos com mãos acenando para nosso carro: chegamos!
Reconheço a casinha meio amarela na esquina e lembro das férias que passei lá, dos primos, dos tios, da piscina de plástico, das flores, do quintal, do cheiro e de tantas outras coisas. Aquela casa continuava lá, mas era em outra que eu passaria a tarde. Quase do lado da casa amarela, estava a casa "71-fundos" e foi lá que aconteceu um dos encontros mais emocionantes dessa minha trajetória carioca.

Tia, primas, tios e a minha linda índia... Vó Mara. Há tanto tempo que não a via, abraçava, sentia, cheirava e dizia bem no ouvido dela que eu a amava e que não importava o quão longe eu estivesse, o sentimento seria eterno.
Os cabelos da Dona Amara continuam pretos, bem pretos, fortes e lisos. Os 78 anos vida, seis derrames, oito filhos, incontáveis netos e bisnetos e tantos percalços dessa vida a deixaram um pouco mais magra, um tantinho mais cansada, menos sorridente, mas muito atenta a tudo e todos. É emocionante ver como ela lembra de nós, mesmo que não consiga expressar isso com muitas palavras, o olhar dela diz tudo e as lágrimas que rolam por aquela face bonita e sentida simbolizam tudo o que é ser família.

As mãos fortes dela me impressionam, as mesmas mãos que me davam pirão quando eu era pequena, os dedos longos me fazem lembrar de como ela era quando eu e ela éramos mais novas e não havia a distância física entre nós.
Me despeço com lágrimas nos olhos e voz embargada, quase não tirei foto, tal momento não conseguiria ser melhor registrado do que pelo meu próprio coração.

As ruas de Bento Ribeiro abrigam crianças na calçada, pipas no céu e muitos sonhos. Um pedido: Deus abençoe a minha família. Seguimos pelas ruas e quebra-molas do Rio e vamos nos perder em outros braços e lembrar dos laços criados. De sangue, de afeto, de amor, de coração. Isaac, Daniel, Rebeca, Talita, Ana, Lucas e eu. Tantas gerações unidas numa tarde simples de calor.
Depois de lanches, risadas, abraços, fotos, comprinhas básicas, chegou a hora de ir embora...
"Entregamos" todas as crianças nos devidos lares e compartilhamos mais histórias, mais coisinhas pequenas e singelas que fazem toda a diferença...

PS: Dia especial, feliz e muitíssimo belo!
PSII: Sr. André Martin, muito obrigada pelos comentários e, pode deixar, estou de volta! ;)

2 comentários:

Andre Martin disse...

Puxa vida! Nunca havia sido um PS2 antes! rsrs Estou encabulado, ao ser referenciado no seu post... Quanta honra! ;-)

A Rádio CBN, no horário das 9:30 as 12:00 tem um programa (CBN São Paulo) que todo dia o âncora Milton Young lê uma crônica da cidade enviada por algum ouvinte. Certamente tem um programa equivalente neste horário no Rio de Janeiro, pois logo após as 10h, há a Conexão Rio-SãoPaulo, em uma troca de impressões e discussão de assuntos comuns ou comparativos, feita entre os dois âncoras. Mas eu não sei se há uma sessão de crônicas lá como aqui há. SE HOUVER (procure saber, entre em contato com a rádio), eu sugiro você enviar este seu texto do post para lá! É ótimo. Uma viagem no tempo e resgate da memória da cidade. Bem ao estilo proposto pelo programa. Acho que iria ao ar sim. Experimente, tente!

Agora, almoço sem feijão preto?? Ah, não! Você não devia estar no RJ!! rsrs É o único lugar que conheço que fazem feijão preto (e não as várias variedades de feijão marrom, como no resto do país) todos os dias, mesmo quando não é dia de feijoada! (que em SP ocorre aos sábados e nas quartas-feiras).

Adorei a pérola: "o bom mau-humor matutino habitual"

Sara disse...

André!!! Sim, tivemos feijão preto no almoço! Que coisa... rs! Esqueci desse importante detalhe... ADORO feijão preto!

E muito obrigada pela dica, estou sim procurando no site da CBN e afins para ver o que consigo com essa crônica! E vou ligar lá... :)

Muitíssimo obrigada! Fica com Deus!